[18:04, 9/9/2022] julia: olha que click bait
[18:05, 9/9/2022] Raquel: e a pergunta vem abaixo: quem foi a primeira pessoa que apareceu na sua cabeça?
[18:05, 9/9/2022] Raquel: Não. Não to falando que é ela, afinal, eu não sou psicóloga ou psicanalista para trazer o seu subconsciente à tona em apenas uma pergunta.
[18:06, 9/9/2022] julia: mas qual o impacto que isso tem em quem você é hoje?
[18:06, 9/9/2022] julia: falei em outro texto sobre o que cada um leva de nós, mas o que deixam?
[18:07, 9/9/2022] julia: não vou nem me aprofundar em traumas, mas talvez falar sobre um novo jeito de se relacionar. menos disponível, mais frio e evasivo.
Esse foi um papinho que brotou no meu WhatsApp e ele veio parar aqui. Começou com o questionamento de como as nossas relações passadas moldaram o que a gente tem disponível pra atual ou pra próxima. Talvez a pessoa de agora não conheça nem 1% de quem você pode ser, mas é o que você consegue oferecer. Isso me traz culpa e uma série de questionamentos: Será que eu mudei pra sempre? Será que cada pessoa que eu conheço vai conhecer uma nova versão de mim?
E vou te falar que essa não foi a única conversa que eu tive sobre isso nos últimos tempos. Não sei se é porque os relacionamentos são realmente líquidos (e nem vou me aprofundar aqui pois nem li o livro do Bauman, só sei a teoria) ou se eu que to com a expectativa muito desalinhada.
Tem aquele papinho de ‘eu só sou a pessoa que eu sou hoje por tudo que rolou’ e bla bla bla… mas honestamente, tem coisa que eu preferia não ter vivido, viu? O famoso livramento. E tem muita coisa que mexe com o ego da gente, desenterra inseguranças, traz à tona um sofrimento que dói fisicamente. E ninguém tem dó de quem tem dor de amor. Sabe por quê? Porque todo mundo tem, eventualmente. Então, bota uma playlist de corno aí e chora largado. Uma hora passa… Mas cacete, né?
[20:30, 9/19/2022] Thamiris: É uma grande merda mas realmente eu acho que tudo é mais desencontro do que encontro
Uhum. Talvez você tenha pensado em alguém, talvez você tenha achado que culpar alguém por ‘traumas’ seja dar responsabilidade (ou até mesmo poder) demais sobre a sua vida para o outro. Mas não quero falar do outro. Quero falar de você. Uma pegada mais intimista, olho no olho. Te convidar pra pensar todas as vezes que você pensou ‘já vi como isso termina’ sem ter certeza. A gente não pode ter certeza. Não ta no nosso controle. Ai, ai… a arte de projetar. Eu faço isso toda hora e to começando a entender o porquê. Uma parte é controle, pois projetando, eu já imagino como termina. Ta roteirizado, dentro do esperado. A outra é só ansiedade mesmo. E, de novo, fé nas ansiosas.
Deixei uma parte de mim com o outro e absorvi a parte dele comigo. E eu tenho me questionado se é possível resgatar quem eu sempre fui. Ou, ainda, ser uma pessoa mais leve e transformar os ‘traumas’ em aprendizados, por mais coach que isso pareça, entendendo que é uma história nova. Mas é um equilíbrio difícil: como usar o aprendizado sem projetar o passado no presente?
Eu percebi que odeio ficar presa numa mesma história. Mas quanto mais eu tento me esquivar dela, mais ela volta. E não sei se é karma, se é o destino, se é falta de sorte… mas se eu encano com alguma coisa e não resolvo, ela volta de outro jeito. E talvez, seja só uma projeção mesmo, de eu enxergar uma nova situação com a mesma ótica de uma situação anterior. Mas se eu faço isso, é porque ainda não me desvencilhei daquele pensamento. E eu já entendi o que é isso: expectativa. E ela, é a mãe da decepção.
Quanto mais a gente espera de uma situação, de uma relação, de uma pessoa, mais a gente se frustra quando tudo vai pro outro lado. E aí, tem os sentimentos que fazem com que a gente escolha o que ver ou não. É aquela passada de pano, a escolha de relevar tantos vacilos e justificar tantas mancadas em nome da ilusão. Porque convenhamos, a gente sempre sabe. No fundo no fundo, a gente só não vê se não quer. E com essa constatação, eu me questiono de novo: eu to limitada a enxergar sempre a mesma coisa ou eu to sempre indo atrás do mesmo padrão de pessoas?
Não sei.
Quanto mais a gente se conhece, mais a gente entende o que ta disposto aceitar. O que está disposto a flexibilizar. O que banca sentir. Eu tenho falado tudo na lata. De cara. E isso também pode ser um reflexo de algum trauma. Ou a projeção que toda relação vai ser igual. Mas se eu já não sou mais igual, o que me leva a pensar que as minhas experiências vão se repetir? Mas percebe que doido, elas se repetem. E eu continuo sofrendo pela mesma coisa sempre, cobrando a mesma coisa sempre e tendo um resultado muito parecido sempre. Talvez eu esteja até traumatizando alguém… será que eu sou tóxica? Fé nas controladoras.
Na terapia a gente aprende que não dá pra mudar o outro. A gente só consegue transformar o jeito que se afeta pelas situações. E eu percebo que tudo é reflexo de insegurança. Talvez eu seja pouco interessante. Talvez eu devesse ler mais. O livro do Bauman, por exemplo.
E nem precisa ser um relacionamento amoroso, pode ser uma decepção em outro tipo de relacionamento por expectativas desproporcionais. Mas as dores de amor doem num lugar muito específico e não é coração, não. É no estômago. É um soco, a sensação de quando alguém te tira o chão e tudo se revira, sobe pra cabeça, teto preto, o corpo formiga e você só quer se esconder até passar ou até você se transformar na sua nova versão, ainda mais indisponível e mais calejada.
Hoje eu vim com o pé no peito, com reflexões que se você estiver amando vai me achar amarga. Mas eu não to amarga, eu to cansada. Cansada de precisar adaptar o meu jeito pro outro, ler entrelinhas. Cansada de ser empática e não ter reciprocidade. E quando tem, que é o MÍNIMO, eu já fico chocada, emocionada, espantada. Pedimos o mínimo, recebemos migalhas. O DRAMA VEIO, eu já tinha avisado aqui que a Julia sofredora tava chegando.
Isso pipoca muuuitos papinhos. Cheios de desabafo e troca de experiência. A Tia Nadia já tinha dito lá na quarta série: ‘a sua dúvida pode ser a dúvida do colega’. Por isso, não vou muito além. Hoje eu to buscando respostas.
Me fala: como você lida com isso?
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Um beijo especial pras minhas amigas queridas que me inspiraram para esse texto. Algumas não foram citadas nominalmente, mas também estão me ajudando a me entender melhor. Manda esse texto pra quem te apoia nessa vida doida.
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