E se eu nunca for suficiente?
Sim, eu já cheguei assim. Explodindo a cabeça de todos os papinhers por aí.
Tem dias que eu sinto que a vida é um checklist eterno. E eu já falei disso aqui, mas o que eu quero falar agora é diferente. Sabe aquela sensação de que vão achar uma arma na sua bolsa no raio-x do aeroporto? Então… Eu sinto, às vezes, que não importa tudo que eu já conquistei na vida, em algum momento eles vão descobrir que é tudo mentira.
Não faz o menor sentido. Inclusive talvez pra você não faça sentido eu conectar uma coisa com a outra, mas pra mim é uma forma de eu reafirmar que eu mereço o reconhecimento por tudo o que eu fiz, e duvidar de mim é igual esperar que encontrem uma coisa dentro da minha mala sendo que existe zero possibilidade dela estar lá.
Vai e vem. Tem dia que eu tenho certeza que eu to indo no caminho certo. Tem dia, que eu preciso repensar e pedir socorro. Sobe e desce.
Minha psiquiatra me explicou o burnout como um desencontro da gente com a gente mesmo e eu achei interessante. Ninguém nunca tinha ido por esse lado. Ela me disse que era uma grande frustração interna de saber do que se é capaz e não ter forças pra entregar, pra fazer diferente e alcançar essa cobrança justamente por conta da sobrecarga. E aí, a frustração que isso gera no outro também, que sabe do seu potencial, mas não te enxerga mais em quem você costumava ser. É o ponto baixo.
É o vespeiro dentro da cabeça, tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo e a dificuldade de achar de onde vem o impulso pra resolver ou o caminho de quem se era pra fazer do mesmo jeito. Ou até mesmo, achar um outro caminho e achar uma outra forma de fazer. Não é um mapa exato, não são coordenadas precisas. O importante é voltar pra si. E pensando bem, e se você me lê há algum tempo, já deve ter notado que é um movimento que eu tenho tentando fazer.
No começo do ano fui pra Boipeba com dois amigos, de férias. Uma viagem de uns 10 dias, os três no mesmo quarto - dividindo de um tudo. Ficamos uns dias em Salvador e de lá, partimos. Pra chegar em Boipeba, você pega um barco. Chegamos e o barco já estava quase cheio, então as pessoas foram se reacomodando para caber todo mundo. Conclusão: Victor e Raquel sentaram num lado na frente e eu do outro atrás (não vou saber falar se é polpa ou proa). O que eu sei é que não gostei.
Como assim eu ía ficar de fora do assunto por 30 minutos inteiros? TRINTA MINUTOS INTEIROS de uma viagem de 10 dias. De cara, fiquei bicuda. Parei 1 segundo pra pensar naquilo e achei engraçado. Como assim eu to brava, com ciúmes? Eu sou louca? É, aparentemente… Na volta, no ônibus uma menina puxou assunto com a gente. Descobri que temos uma paixão em comum: o João Gil, aquele gostoso - se um dia você chegar aqui, me manda DM. Descobri que, assim como eu, ela também responde os stories dele. Não gostei. É, talvez eu seja doida mesmo.
Mas nessas situações, quando o meu instinto fala mais alto, eu dou um passo atrás e racionalizo. No primeiro momento, eu fico bicuda, eu quero ir lá e comentar, responder, jogar tudo na cara. Mais nova, provavelmente faria isso. Hoje, eu consigo enxergar o absurdo. Hoje, eu só me posiciono mesmo se eu precisar. Só gasto energia se realmente vale a pena (João, você vale). Eu aprendi a olhar primeiro pra mim e entender sozinha antes de explodir e ser uma grande mimada.
E, tudo isso pra falar que olhando pra dentro eu percebi que normalmente, essa minha espiral-emocional-maluca-possessiva acontece quando eu to com muito tempo livre. Acho que é quando eu fico mais insegura e isso por não estar produzindo, por estar “fazendo nada” e sentindo que meu valor diminuiu. Olha que loucura!!! Precisei parar para ‘me reencontrar’ e achei, no meio do caos, uma Julia insegura e carente: a minha pior versão. Quando a vida ta acontecendo, não dá tempo de sentir. Aí você fica anestesiada, esgotada e se perde tudo de novo.
Ou seja. Aparentemente eu estava vivendo em dois estados principais: esgotada e anestesiada demais para sentir qualquer coisa ou descansada o suficiente para pensar demais e ficar insegura. Num pequeno exemplo, eu já trago de volta e amplio pra coisas muito mais profundas. Faz o teste. Autoconhecimento é tudo de bom, às vezes não recomendo.
To arrumando esses sentimentos dentro de mim ainda. Quando “nada” ta acontecendo, é justamente porque aconteceu muito mais do que eu podia suportar - e eu vou fundo na minha fossa até cansar de me sentir assim. E volto a querer fazer tudo e o checklist volta a crescer. A vida pra mim não tem muito sentido se eu não puder fazer planos - talvez meu olhar no futuro seja só ansiedade mesmo, apesar de eu retomar muito o passado e transformar em causos.
E quando alguma coisa acontece comigo, eu consigo transformar isso numa grande história. Reforçar os detalhes, criar uma cauda longa, uma narrativa perene - como eu costumo dizer em reuniões profissionais. Mas ultimamente, eu to meio sem talento pra fazer as histórias renderem. To meio sem carisma pra envolver e liderar a narrativa. Por isso, percebi que tenho buscado isso no outro.
Mas na verdade, não é falta do que contar, é só que as coisas não tavam acontecendo exatamente como a minha expectativa. E nem sempre vão acontecer como a gente planeja, deseja e espera. Às vezes é fácil de lidar, às vezes é insuportável. Daí o burnout. Não se achar, não se reconhecer, ir até o limite e não saber voltar.
Eu to escolhendo olhar lá pra baixo, talvez pro fundo no poço mesmo e ver que ainda tem chão, e voltar um pouco, repensar em como recalcular a rota. E quanto mais eu reflito sobre isso, mais eu vejo que talvez eu esteja tentando voltar para uma pessoa diferente da que eu preciso ser agora.
Não que eu não existo mais dentro de mim, mas o jeito que eu vivia não cabe mais em quem eu quero ser e eu to com uma dificuldade imensa de aceitar isso. Parece que é admitir que eu fracassei naquele personagem lá e ta na hora de assumir um papel diferente numa nova temporada.
E não é um papinho cansado de se reinventar. Eu quero voltar a ser quem eu era? Talvez eu queira voltar a me sentir bem em ser quem eu sou. Mas talvez eu seja uma pessoa completamente diferente hoje. Bom, já fiz mudanças. Mantive muita coisa também. Muita gente. Ainda bem.
To vivendo a minha melhor vida só por poder arriscar tudo isso? É… mudar dói. Sobe e desce. Desapego não é para os fracos. Será que vão descobrir que eu nunca fui tão forte assim? Eles quem, né gata? Vamo pra cima.
Não sei, novos tempos…
Por enquanto é o suficiente.