Toda vez que meu nariz entope eu lembro como é bom respirar direitinho. E, talvez, esse seja o exemplo mais idiota sobre como a gente só valoriza as coisas quando perde ou quando sente falta. (E talvez tenha pensado nele pois estou bem gripada enquanto escrevo isso.) Eu to deixando o orgulho cada vez mais de lado e voltando atrás, mas sem esquecer do amor próprio. Mas eu me sinto inconstante. Não sei se é o ascendente em gêmeos, mas eu oscilo. Aliás, não sou eu. A vida oscila. O que me faz lembrar que passa. Tudo, o tempo todo. Mesmo que às vezes continue no fundo da sua cabeça por meses a fio. Já foi. Pode ser raiva, luto, cólica, dor de amor, gripe mal curada. Passa e continua. Vem e volta.
Hoje eu ía escolher um título mais poético, mas percebi que não to muito pra poesia. Na minha cabeça, até faria sentido falar que ‘a vida é mar’, pensando nessa inconstância e que tudo vem em ondas, mas me achei arrogante ao lembrar de um dos meus livros favoritos, da Carla Madeira. Quando eu li ‘Tudo é rio’ eu me senti abraçada, mesmo em meio a tanta violência que ela retrata na história. Aqui, não vou entrar em detalhes pra não dar spoiler pra quem não leu ainda e também pra não ficar muito solto e virar uma resenha. Mas o fato é que eu to imersa no meu próprio caos e, talvez, esse não seja o texto mais leve que eu vá escrever aqui. To sem cabeça. Hoje é mais um desabafo.
A maré virou, sempre vira. Eu tava em ondas tranquilas, aquele mar quentinho, sensação de férias. Não sei se porque estou quimicamente controlada e esse quentinho era só uma anestesia, ou se porque tava tudo indo bem - dentro do possível. Mas, isso também passa. E a calmaria deu lugar a um turbilhão de coisas. Meu corpo pediu arrego. E eu me sinto culpada por precisar desse tempo. Me sinto culpada de não estar bem pra fazer o que eu preciso fazer. Mas o que eu preciso agora é me recuperar.
Outro dia tive essa conversa com a minha amiga e fui a palestrinha do Brasil, falando sobre como a gente precisa se livrar disso que consome e suga toda a nossa energia. Essa culpa, essa síndrome que nunca estamos fazendo nada direito, que não somos suficientes, essa mania idiota de pedir desculpas e permissão pra tudo. E falei tanto também pra me ouvir. Mas naquele dia, eu falei de dentro de um barco estável, num mar calmo e previsível. O vento virou e eu caí. Caí cansada, exausta, sugada, doente e culpada. Do jeitinho que eu falei que ela não deveria fazer.
O que me faz pensar que todo mundo pode jogar a boia pra alguém. Não que seja sua responsabilidade resgatar o outro o tempo todo, ser o salva-vidas mais atento e vigilante dos sentimentos alheios, mas se a sua corrente ta menos tumultuada, puxa quem precisa pra dentro do seu barco. Falei que não queria um texto poético, mas to cheia de analogias e romantização do meu momento ruim. E todos temos. Acontece.
Voltando pro livro, a história mostra que a vida segue. Mesmo com o caos, com a violência, com o sofrimento. E me faz lembrar que é melhor aproveitar os momentos felizes, de calmaria - esses vão rápido demais e a nossa cabeça ta sempre focada no próximo. Profissionalmente eu preciso prever, planejar, antecipar. Mas quero cada vez mais separar a pessoa jurídica da física nesse sentido. Viver o agora, YOLO, Carpe diem e todas as outras frases que dariam pra colar no parachoque de um carro.
Respira. Expira. Solta. Repete. Descansa, desaba, se fortacelece, desaba de novo, levanta e vai pra próxima. É a vida. Um dia de pé e no outro sentado, já diria minha mãe.
Eu escrevo esse texto me recuperando e repetindo pra mim mesma que isso também passa.
E, se você espirrar, saúde.
***
Um agradecimento especial pra quem me acolheu e entendeu meu momento. Quem tem amigo (e quem também tem amiga que é chefe empática), tem tudo.
Amei! Adoro como você passeia nas cenas sem perder o foco..
Amei! Adoro como você passeia nas cenas sem perder o foco..