Meu pai encaminhou no WhatsApp uma foto com seis gatinhos pra adoção. Três machos e três fêmeas. Aquelas carinhas, aquelas patinhas, aqueles rabinhos e aquela pontada de ‘será que eu quero?’. Acabou que não deu certo eu ir vê-los e a semana passou. Na semana seguinte, aquilo ainda tava no fundo da minha cabeça, ecoando, ‘será que eu quero?’. E aí, mandei uma mensagem pra quem tinha resgatado os filhotes: “posso ir aí?”.
Peguei minha mãe, que tem sido uma excelente companheira de aventuras, diga-se de passagem, e fui ver os bichinhos. E gente, COMO QUE VOCÊ ENTRA NUM QUARTO COM SEIS FILHOTES DE GATINHO E NÃO SE APAIXONA???? É humanamente impossível. Entretanto, tivemos percalços nessa visita. Resumidamente, dois dos gatinhos não eram exatamente simpáticos e foi um tal de gato arrepiado saracutiando e arranhando pra todo lado. Fingindo costume, eu disse “acho que esses não têm muito meu perfil rsrsrs”, morrendo de medo de levar pra casa um bicho entrevado.
Bom, acabou que dois ganharam meu coração. E quem me conhece, sabe. Se eu vou, eu vou. Já ía adotar logo os dois. Escolhi os nomes e tudo. Saí de lá e fui pra Cobasi e quase R$600 depois, o enxoval pet estava pronto. Comprei caixa de areia, a melhor areia, uma ração deliciosa de salmão para filhotes mimados, uma fonte de água pra eles terem água sempre fresquinha, brinquedos para enriquecimento ambiental, a pá pra eu pegar o cocozinho deles com dignididade… enfim, se é pra passar o cartão, vamo embora!
Cheguei em casa com minhas compras e nada me deixa mais feliz do que ver tudo o que eu comprei. Nada me assusta mais do que ver a fatura depois, mas essa pode ser uma conversa pra um outro papinho. Ok. Assisti um monte de vídeo sobre gatos. Dormi. Acordei. Me arrependi. E agora? Tava na hora de ir buscar os bichinhos. O que eu faço?
Acordei pensando ‘será que eu quero ter essa responsabilidade agora?’; ‘será que eu sei cuidar de gato? eu só tive cachorro minha vida toda’, ‘e se eles destruírem meu sofá que eu nem terminei de pagar ainda, minha cortina nova? eu vou ficar muito puta’, ‘e se ele engole um cadarço e eu preciso levar pro veterinário, minha conta bancária aguenta esse tipo de imprevisto?’. Quando eu começo me questionar demais a resposta, normalmente, é ‘melhor deixar pra lá’.
Depois de uma looooonga conversa com a minha mãe, que aproveitou esse momento pra jogar na minha cara que eu sempre jogo na cara dela que ela é libriana e não toma decisões, mandei mensagem pro homem e falei “obrigada, mas não consigo fazer isso agora”. E volta a gata arrependida (eu) pra Cobasi e troca tudo por ração pra cachorra que já existe. Um pequeno vexame, nada fora do comum…
Eu preferi nem ir buscar os gatos do que buscar, me arrepender e devolver. E essa foi a conclusão que eu cheguei quando minha mãe me perguntou “o que você banca fazer agora?”. E essa é a pergunta que minha mãe me fez a vida toda e que basicamente fez eu ser quem eu sou hoje. E isso me ensinou a me conhecer e respeitar meus limites também, por mais brega que isso pareça.
Quando eu decidi morar sozinha, fiquei sobrecarregada. Era muita coisa pra pensar e eu tive um pequeno chilique no supermercado. Cheguei em casa chorando “COMO QUE EU MUDO SE EU NÃO TENHO NEM UM LIXINHO DE PIA?”. E claro que a verdadeira questão não era essa. Eu tava sofrendo. Eu queria sair de casa, mas ao mesmo tempo, foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz na vida. De novo, minha mãe perguntou “o que você banca fazer agora?”. E no fim, naquele final de semana em questão, eu banquei começar a mudança e esperar mais uns dias pra vir de vez.
E lembro de tantas outras vezes que eu fiquei pistolinha porque minha mãe não me deu a resposta. Sabe quando você só quer que a pessoa decida por você? Então… nunca rolou. Minha mãe, desde o comecinho, me ensinou a pensar e decidir sozinha, pra fazer o que eu ía ter estofo pra fazer. E muito do que eu trago aqui, eu trago por causa dela. Que sorte!
Esse é o meu mantra: Eu só faço o que eu banco. E eu banco o que eu não faço também. Tenta, é gostoso demais. Pra que eu vou acampar se eu já sei que eu não banco isso? Viajar sozinha? Banco demais, adoro e recomendo, inclusive. Mas também, se eu resolver mudar de ideia sobre tudo isso, sei que vou bancar. E quando eu me arrisco? Quando eu sei que sou capaz de bancar as consequências.
Lá em cima eu falei que banquei cada pedacinho da minha desistência, mas a verdade é que eu só banco o que eu banco por causa da minha mãe. E esse texto é todinho pra ela e sobre tudo o que ela me ensina até hoje.
Ela também me diz sempre que eu não preciso provar nada pra ninguém, mas a gente se cobra tanto de dar satisfação, né? E para todas as outras situações to tentando internalizar isso. Quando é com ela, eu ainda sinto que preciso provar sim. Eu preciso provar todos os dias meu amor por ela, que às vezes acho que passa batido. E por isso que tenho aproveitado todas as oportunidades que tenho pra reforçar.
Quando eu nasci, minha mãe tinha a idade que eu tenho hoje. Acho que isso tem me feito ser mais empática com ela. Eu não sei o que eu to fazendo boa parte do tempo. Na verdade, até sei, mas é bom saber que ela ta ali pra me lembrar disso. Surtei em pensar num gato engasgado e precisei dela me lembrando que eu saberia o que fazer e que talvez só não quisesse ter que lidar com isso agora. Ela costuma falar que eu não me importo tanto com a opinião dela, mas a verdade é que ela é praticamente a minha consciência. Sempre foi.
Olha só, eu ía falar de uma coisa, mas acabei fazendo uma carta de amor pra minha mãe. Papinhos tem disso.
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Muito amor por essa duplinha linda 🤍