Eu sempre tive uma ideia de como eu seria com 30 anos. E tudo se resume em: adulta. Mas quanto mais perto eu chego das três décadas, mais eu vejo que eu não percebi a passagem do tempo. Eu consigo resolver a maior parte das coisas que acontecem, ou minimamente encontrar alguém pra me ajudar a resolver, mas ainda tem uma situação ou outra que eu penso ‘vou ligar pra minha mãe’.
Antes de eu me mudar, resolvi que tinha que fazer uma limpeza espiritual no apartamento. Pelo sim e pelo não, não custa nada. Eu não sei quem morou aqui antes, eu não sei quais eram as energias que essa pessoa jogava pro universo e muito menos o que ela fazia ou deixava de fazer aqui. Consegui o contato de uma pessoa que trabalha com isso e ela fez tudo à distância. Lembro na época de algumas pessoas questionarem o fato dela não vir aqui presencialmente e minha resposta sempre foi categórica: ‘é limpeza espiritual, não faxina’.
Encurtando a história, coisas estavam aqui. Não vou entrar em detalhes pra poupar os corações mais frágeis, mas o que ela me explicou foi “sua casa agora é um portal de luz”. E eu tava feliz e realizada. Nada me abala. Bora!!! Ela me aconselhou a repetir a limpeza depois da mudança, já que muitas pessoas viriam aqui - entre o pessoal da mudança, o cara do gás, da internet, da luz etc. Concordei, mas a vida foi acontecendo e eu acabei esquecendo.
Aí, meus amigos, que vem um papinho de arrepiar. Uma noite, eu estava dormindo e senti um peso nas pernas. Levantei meio sem entender. Tava sozinha, lógico. Mas aquilo foi estranho e eu resolvi pedir aquele tal repasse. Não contei nada pra ela, mas ela me disse que tinha sim alguma coisa aqui e perguntou se eu tinha me sentido intimidada. A verdade é que eu tava toda arrepiada só de ouvir ela falar isso. Ela me explicou que quando transformou minha casa num portal de luz, aqui tinha virado quase que um caminho. Trocando em miúdos, a rodoviária do outro plano. Show.
Conclusão: ela me orientou a lidar com isso e agora ta tudo certo. Não fui mais acordada durante a noite e nem tive medo. Tenho contado essa história com bom humor nas mesas de bar por aí - morrendo de medo de voltar pra casa e ver um vulto, é verdade. Mas, se é luz, eu lido bem. Tenho mais medo de certas pessoas, se é que vocês me entendem.
Apesar de não seguir nenhuma religião, eu tenho fé. E pensando bem, minha fé é até um pouco egocêntrica, porque eu acredito em mim e na energia que eu coloco nas coisas. Não de um jeito cirandeiro e good vibes, mas de entender onde eu estou investindo a minha inteção e o poder disso. Quanto mais eu penso nisso, mais eu vejo que a minha fé é muito ligada ao autoconhecimento. É entender a limitação, onde eu preciso investir mais esforços e contar com a ajuda de alguma forcinha do universo, já que eu to vibrando tanto isso.
Outra coisa que aconteceu recentemente foi um combo de doença. A virose (possivelmente hepatite A - e se você não tomou vacina pra isso ainda, tome) e covid vieram de uma vez, pra me derrubar mesmo. Foram 10 dias isolada, passando mal sozinha, sem ninguém pra me fazer um chá (as minhas companhias citadas acima não mexem nas coisas no apartamento, AINDA BEM). E esse sempre foi um dos meus maiores medos: me sentir sozinha pra resolver as coisas, principalmente doente.
Lidei bem. Melhor do que eu imaginava que lidaria. No primeiro dia, eu resolvi faxinar a casa inteira para não ficar doente numa casa não arrumada - é, minha mãe se estiver lendo vai pensar “O JOGO VIROU, NÃO É MESMO?”. Nos outros dias, quando eu fui engolida pelo cansaço e depois me dividindo entre o trabalho e a vontade de sumir, a louça acumulou. Mas também, sem pressão. Fui cuidando de mim. Descansando à medida do possível, comendo bem, dormindo, bebendo água e com uma rede de apoio à distância que sempre me dá muita força e a certeza de que eu sou capaz.
E aí, volto a falar da minha fé em mim. E que talvez essa seja a prova que eu sou adulta. Resolvi. Enfrentei. Mesmo com medo e insegurança. To até me vendo, bem velhinha, passando mal sozinha e retrucando com “ai, não queria incomodar”. E vou rir, lembrando todas as vezes que eu briguei com os meus avós quando falaram isso e não me avisaram de nada. Ir, com medo e insegurança, mas sabendo que a rede de apoio ta ali, renova nossa fé.
Meu compromisso é com a verdade e eu não vou mentir. Em todas essas situações eu liguei pra minha mãe, claro. Mas liguei pra contar (e omitindo alguns detalhes pra não preocupá-la). E isso é muito adulto, né? Resolver e compartilhar.
A primeira compra errada que eu fiz pro apartamento foi uma mesa grande demais pra sala. Meu pai montou. Demorou dois dias. Precisou comprar uma parafusadeira. Considerando uma margem de erro de 100 pra mais ou pra menos, a mesa veio desmontada em 70 pedaços. No instante que ele terminou, eu odiei. Era enorme, era desproporcional. Eles me ajudaram a reorganizar a sala de todos os jeitos possíveis, nada me fez feliz. Fiquei bicuda. E sim, fiz meu pai desmontar a mesa sob a supervisão cuidadosa da minha mãe. Devolvi, briguei com a Mobly - como esperado -, mas deu tudo certo no final. Sempre dá. Comprei outra. Deus me ajude.
Agora to aqui. Com uma máquina de lavar que não passa na porta. Porém, tudo resolvido. Eu vou lavar roupa na sala. Eu faço uma gambiarra e puxo uma mangueirinha, vai ficar ótimo.
Minha mãe ainda não sabe disso.
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atualização: o zelador me ajudou e a máquina já está devidamente instalada. ainda to esperando a vistoria da perita, senhora minha mãe, pra ver se ta tudo ok. Já lavei lençóis, nenhum prejuízo por enquanto. sucesso absoluto.
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Nem sabia que eu precisava ler isso. Foi muito bom!
Eu amo esses papinhos que nos faz pensar em quem somos e como lidamos com as coisas no caminho. Amando muito cada texto!